quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Minha Terra, Minha Vida


Meu avô disse que, antigamente, ia buscar água, de dois em dois dias, montado num jerico “puxando cento e vinte quilômetros por hora”. Quando chegava lá, enchia as cabaças e as colocava dentro da bruaca do jerico.
Ao voltar para casa, os carneiros e os bodes corriam todos, numa alegria que só vendo, para perto do jerico, pois queriam beber água.
Após separar “a água de beber”, como meu avô chamava a água destinada ao consumo humano, saciava a sede dos bichos e ia alimentar o cansado jerico.
A mãe do meu avô também ia de jerico lavar roupa na vereda. Percorria três léguas e a viagem durava três dias: um para ir, outro para lavar as roupas, e outro para voltar. Mas nunca ia sozinha, sempre iam duas ou três fazendo-lhe companhia.
Eles achavam bom quando comiam feijão puro, mas quando não havia água para cozinhá-lo... Moíam milho para fazer fubá. E era assim...


A noiva da curva


Em uma bela tarde fria e chuvosa de sexta-feira, uma moça muito jovem e bela, que morava num sítio em Tanquinho, se preparava para casar-se em Lapão.
Já pronta para dirigir-se à cidade, mesmo em meio aquela forte chuva, a jovem resolve seguir viagem.
Chegando a segunda curva da estrada que liga Tanquinho à Lapão, um vento muito forte começa a soprar e o motorista, sem conseguir enxergar direito, vai aos poucos perdendo o controle do carro. De repente, uma enorme árvore é arrancada pela raiz e lançada no meio da estrada. O carro bate, capotando três vezes na pista. O motorista, por sorte, consegue sobreviver aquela fatalidade. A moça, no entanto, morre no local do acidente.
Após esse acontecimento, três vezes por ano, sempre à meia noite e na mesma curva onde acontecera o trágico acidente, a moça vestida de branco aparece pedindo carona e causando outros acidentes.


A vovó em apuros


 Minha avó me contou que quando estava indo para roça, ouviu uma voz ao longe que dizia:
-Mulher, volte que aí tem um homem de preto!
Ela não deu ouvidos à voz e continuou andando. Quando chegou lá na frente, havia um homem comendo uma galinha preta.
-Ei rapaz, saia daí! Não coma isso! – Disse a minha vó.
O homem veio em direção da minha avó, agarrou-lhe e começou a agredi-la.
-Sai, sai, sai! – gritou a minha vó em desespero, a fim de que alguém a escutasse.
O homem ficou com medo que saiu correndo e nunca mais alguém ouviu falar dele.

domingo, 28 de novembro de 2010

O casal de almas penadas


Certa feita, ao voltarem de Lapão, à noite, meus primos avistaram ao longe um homem vestido de branco; homem que, daquele jeito, nunca ninguém teria avistado.
O homem trazia no colo uma mulher de cabelos enormes, eles eram tão grandes que arrastavam no chão. Meus primos, muito assustados diante de tal cena, aceleraram o passo. Meu tio, que vinha atrás dos rapazes, afirma ter visto esse casal de almas penadas que vagava pelas estradas.
            Em seguida, um homem que passava pela estrada vê somente a tal mulher de cabelos longos pedindo carona. Ele, fascinado pela beleza da jovem, para o carro e lhe dá carona. De repente, quando olha para o lado, vê que os olhos, ouvidos, nariz e boca da mulher estavam sangrando. O homem, muito apavorado, para o carro no acostamento e sai correndo até chegar à cidade.
            Depois disso, ele não sai mais de casa e nunca fica só, uma pessoa tem sempre que ficar ao seu lado, pois ele ficou traumatizado com tal episódio e até os dias de hoje vive morrendo de medo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estória Maluca: A bruxa que sabia chorar


Era uma vez uma bruxa muito má que perseguia as crianças. Um dia, a bruxa encontrou uma pequena criancinha pelas estradas de um grande bosque. Ela resolveu perseguir essa criança e levá-la para sua casa, do outro lado do bosque.
Chegando lá, prendeu a menina, pois ela seria muito maltratada por essa bruxa. De repente, a menina disse:
-O original que nunca se desoriginaliza, pois o desoriginador nunca se desoriginará!
E então, chorando, a bruxa respondeu:
- Esse coração ficou muito machucado por ter perdido ele. Estou muito triste porque não consigo me apaixonar por outra pessoa.
A bruxa chorava muito. Chorou, chorou e chorou... e, limpando a meleca do nariz, continuou a falar:
- Quando eu era pequena gostava muito de brincar... Era muito sensível e amava a minha mãe. E eu gostava de correr, de ir ao circo e de ir à escola também... Agora, gostaria de ir para um lugar bom, sem violência e destruição!
A menina, muito comovida, com os olhos arregalados de surpresa, indagou:
- Talvez você goste de ser amada e não humilhada, não é?!
-Sim, gosto muito e você também! - Disse a bruxa aliviada.
E a bruxa morreu de medo das crianças que aprisionou e foi para o fundo do inferno.

Narrativas Orais e o Imaginário Ireceense


A Literatura enquanto arte de criar e recriar textos, utilizando a palavra como matéria prima de suas criações, por iniciar a criança no mundo literário, deve ser utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência e desenvolvimento da criatividade, bem como para a expansão da capacidade e interesse em analisar o mundo à sua volta.
Sendo assim, a arte de contar histórias, tão antiga quanto o homem, o acompanhou durante toda a sua existência em sociedade. Por meio das narrativas essencialmente orais, o homem construiu, preservou e partilhou um conjunto de saberes, crendices, costumes, lendas e provérbios, em resumo, é por meio da fala que se dá a preservação dessa cultura de base essencialmente oral.
No entanto, em meio a esse universo tecnológico encantador que vem atingindo um número de pessoas cada vez maior, abrangendo de diversas faixas etárias, percebe-se que a “viagem” proporcionada pelo ato de contar histórias está sendo constantemente substituída pelo ato de “navegar’ na internet; o contato direto entre as pessoas, a troca de experiências, o diálogo e o saber que dele advém estão se perdendo ao longo dos tempos.  
A escola e/ou os livros didáticos, muitas vezes, deixam à margem a cultura de base oral. As estórias, os mitos, as lendas de um determinado povo não são contemplados, contribuindo, dessa maneira, com o processo de apagamento da memória coletiva local, uma vez que tanto a escola quanto os livros didáticos tendem a valorizar a cultura da camada social e economicamente favorecida, enquanto a cultura, dita inferior, por pertencer às camadas menos favorecidas e serem essencialmente orais, é marginalizada.
Nesses termos, levando em consideração o acima exposto, será proposta uma nova forma de trabalhar a leitura e a escrita, a oralidade e a análise linguística, utilizando para tanto narrativas orais, tornando a aula de Língua Portuguesa mais lúdica e dinâmica, uma vez que o aprendizado estará pautado na vivência, na aproximação do aluno tanto com o objeto de estudo quanto com as fontes a serem pesquisadas, visto que ele fará o levantamento de algumas narrativas orais encontradas na cidade de Irecê.
Sendo assim, será proporcionado ao educando a oportunidade de construir conhecimento e desenvolver habilidades fora do espaço escolar, envolvendo nesse processo pessoas da própria localidade onde residem, bem como os aproximando dos seus familiares que poderão servir como fontes de pesquisa e trocas de experiências.